Powered By Blogger

domingo, 16 de setembro de 2007

A Deusa Divina Africana


Minha Querida Oxum ( texto de Vera Ghimel - veraghimel@oi.com.br)


OXUM, divindade das águas doces, padroeira da gestação e da fecundidade, protege também as crianças pequenas até que comecem a falar. Orixá do amor, da prosperidade e da beleza, é a mãe de Logunedé, orixá menino.Cultuada como a Senhora do Ouro, soluciona problemas de amor e das finanças. Sua manifestação arquetípica é nas cachoeiras, rios e córregos.Em Oxum, os fiéis também buscam auxílio para a solução de problemas no amor, uma vez que ela é a responsável pelas uniões e na vida financeira, tanto que muitas vezes é chamada de Senhora do Ouro.As pessoas de Oxum, principalmente as mulheres, são vaidosas, elegantes, sensuais, adoram perfumes, jóias caras, roupas bonitas, tudo que se relaciona com a beleza. Gostam de chamar a atenção do sexo oposto. São boas donas de casa e companheiras, despertam ciúmes nas mulheres e se envolvem em intrigas. São destemidas diante das dificuldades.Possuem a capacidade do oráculo e são consideradas as melhores Yalaorixás (mães-de-santo) dos terreiros. Não que os outros Orixás não sejam ótimos para o cargo, mas é que quem traz Oxum na cabeça, tem a responsabilidade de cuidar dos filhos-de-santo e tem a capacidade psíquica já desenvolvida.Desde muito cedo descobri ser de Oxum o que me deu muita alegria e uma certa apreensão. Logo de cara descobri o que significava: precisava cuidar das pessoas. Optei pela forma que conhecia, embora soubesse que poderia ser através do culto religioso afro. Não tenho muito talento disciplinar para seguir doutrinas, embora considere necessária a existência delas para organizar a fé, pelo menos até o momento. Sei também que, futuramente, não precisaremos de religião para nos conectarmos com a nossa divindade. Mas os Orixás em nossas cabeças traduzem algumas informações sobre as nossas escolhas por aqui, como por exemplo, Xangô faz você ser interessado pela justiça, Oxosse traz uma alegria natural pelas festas e celebrações, Yemanjá traduz uma vontade grande de ter uma família, Ogum faz você trabalhar com muito afinco, Yansã adora se enfeitar e flertar, Obaluaê envolve você na cura. Ter essas influências é já ter o arquétipo desses comportamentos. É como se fosse uma identidade. Abaixo transcrevo uma pequena evocação :


Orá iiê Oxum,

Salve dourada senhora da pele de ouro,

benditas são suas águas, e essas mesmas águas lavam meu ser, e me livram do mal.

Oxum, Divina Rainha, bela orixá,venha a mim caminhando na Lua cheia.

Traga mãe, em suas mãos, os lírios do amor e da paz.

Torne-me doce, sedutora, suave, como és.

Mamãe Oxum, me proteja, orixá.

Que o amor seja constante em minha vida.

Que eu possa amar a tudo que existe.

Me proteja contra as mandigas e feitiçarias.

Dê a mim o néctar da sua doçura.

E que eu consiga (faça o pedido).

Mãe de ouro, da beleza e do amor, senhora do mais puro Axé,

valha-me hoje e sempre.

sábado, 15 de setembro de 2007

Oração a mim mesmo


Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Falar menos.
Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vêa admiração que eles me tême não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática,as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis;aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto,a cada nova flor,a cada novo calor,a cada nova geada,a cada novo dia.
Que eu possa sonhar o ar,sonhar o mar,sonhar o amar,sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas,dos movimentos,do impossível,da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque,pelo sentir,pelo compreender,pelo segredo das coisas mais raras,pela oração mental - aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde.
Que eu saiba dimensionar o calor,experimentar a forma,vislumbrar as curvas,desenhar as retas,e aprender o sabor da exuberância que se mostran as pequenas manifestações da vida.
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza,criando-me e recriando-me a cada instante.
Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão,que em vão não sejam minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com dignidade.
Que eu não tenha medo de nada,principalmente de mim mesmo:- Que eu não tenha medo de meus medos!Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis,e desperte com o coração cheio de esperanças.
Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência,sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos,humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas - que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezase o quanto é valiosa minha pequenez.
Que eu me permita ser mãe,ser pai,e, se for preciso,ser órfão.
Permita-me eu ensinar o pouco que seie aprender o muito que não sei,traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências;respeitar incondicionalmente o ser;o ser por si só,por mais nada que possa ter além de sua essência,auxiliar a solidão de quem chegou,render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado,
fazer gentilezas quando recebo carinhos;
fazer carinhos mesmo quando não recebogentilezas.
Que Eu jamais fique só,mesmo quando Eu me queira só.
Amém.
(ORAÇÃO A MIM MESMO - Oswaldo Antônio Begiato

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

" O que quer uma mulher?"


DAS BRUXAS À PSICOLOGIAClara Rossana Ferraro de Sá


Ou poderia ser das Trevas à Luz ?
Que tal inverter, voltar no tempo e buscar a luz anterior às trevas?
O mundo mágico, recanto das fadas ?
Iluminar o pequeno.
Encantar-se.
E a alma rejubila
Pingos de essência divina.
Sinta!
É amor.
Perceba!
Está dentro de você.
Existe,
a um só tempo
além de nós.
Nos Devaneios da Vontade, Bachelar nos diz que o feérico por essência,ultrapassa qualquer intuição: desloca sem cessar a admiração. O feérico,potência das fadas, nos insere no mistério do ser, na unidade do ser.
A beleza pronta a piscar e realizar um mundo mágico.
O Cosmos contido na varinha de condão.
O encantamento.
A magia não seria isso, o reencontro com a alegria de ser, de simplesmente existir?
A imaginação borbulhando sonhos de reencantamento do mundo?
Sonhos de unidade, visão transcendente de inteireza, potência e amor, outrora representados pela Grande Mãe.
No Egito, os Mistérios de Ísis, eram celebrados a partir de um ritual matutino e a cada hora uma celebração que só terminava na vigésima Quarta hora com a revelação dos mistérios quando as estrelas brilhavam no céu. A Grande Deusa era invocada e os segredos da vida revigorados, cultuados.
Na Antiga Grécia as crianças de 5 a 15 anos frequentavam o Gymnasiun para cantar,dançar e ouvir os mitos. A educação era para o ser. Primeiro a vida, a alegria, o mistério. Estava presente a imagem de Terpsícore,a musa que preside a dança, aquela que rejubila nos coros, que obtém satisfação plena do desejo, que tem prazer em divertir-se e alegrar-se. A orientação do grupo era da responsabilidade do Misterólogo, o iniciado nos mistérios.
O que aconteceu com esta integração, como se deu o distanciamento desta sensação de plenitude, unidade e encanto?
O que aconteceu na história da consciência humana?
Admirar, contemplar, amar, compartilhar, ser, existir, são verbos do arquétipo do feminino. Desgastados e quase esquecidos pela humanidade enquanto realizou o desenvolvimento do masculino. Uma necessidade que se cumpriu e agora pede o retorno da deusa, desta força do feminino, para que se restaure a unidade do ser, a vida e o sentido de viver. Faz-se necessário o reencontro com a natureza, a harmonia consigo mesmo, a conexão com a fonte de vida.
O conflito entre os deuses patriarcais e a deusa mãe foi se intensificando e os cultos à ela foram se dispersando ou sendo assimilados distorcidamente. Dioniso,deus do êxtase e do entusiasmo, do abandono aos poderes da natureza; Pã , expressão do espírito da natureza selvagem ; Afrodite, deusa do amor, da união sexual, mãe de Eros; tornaram-se objetos da repressão cristã e reapareceram mesclados na imagem do diabo. Suas funções psicológicas submergiram nas profundezas do inconsciente. E a sensação intrínseca de confiança em pertencer à Grande Mãe Natureza deixou de existir reaparecendo séculos após nos sintomas das histéricas de Freud . Corpo, sexualidade e inconsciente/natureza emergem da escuridão para serem reintegrados. E neste fim de milênio as depressões que afligem a alma humana clamam pela busca de sentido, valor principal do arquétipo maior. Mergulhada na morte, a alma contesta os valores esquecidos, exige reflexão em redescobrir os mistérios femininos ligados ao ciclo vida – morte – vida e encaminha para a elaboração da morte simbólica. Faz repensar a questão espiritual , o ser criativo recriando-se, regenerando-se, curando-se dos excessos de violência e agressividade a que a humanidade se submeteu em prol do desenvolvimento da razão.
Nos estudos feitos por Rose Marie Muraro podemos observar a relação homem / natureza / cultura onde na cultura de coleta e de caça aos pequenos animais não havia a necessidade da força física para a sobrevivência e a mulher ocupava o espaço central. Pelo poder de dar a vida, era um ser sagrado. Nesta sociedade não havia desigualdade e o feminino e o masculino governavam juntos.
A supremacia masculina inicia-se na sociedade de caça aos grandes animais. Porém a mulher continua sendo um ser sagrado. Eles não conheciam a função masculina na procriação.
Nestas sociedades cooperativas não havia coerção, ou centralização e sim rodízio de lideranças e as relações homem/mulher eram fluidas, a perda de contato com Eros , o princípio de ligação, aquele que une, relaciona,faz o amálgama, ainda não ocorrera. A agressividade que encontra em Eros seu eterno antagonista só imperava em relação à sobrevivência.
Na medida em que o Pátrio Poder se desenvolve e a lei do mais forte se instala, o uso da agressão se impõe nas relações humanas gerando competitividade, poder, conquista, luta pela posse de um território, guerras. Surge a questão da herança, institui-se o casamento. E a posse sobre a mulher, sua sexualidade, prazer e direito à própria vida se concretiza. Ao dominar a função biológica reprodutora o homem passa a controlar a sexualidade feminina. O poder cultural passa a desenvolver-se em oposição ao poder biológico nato na mulher. A vulnerabilidade permeia a função de parir, a mulher se inferioriza , torna-se dependente e o homem trabalha e domina a natureza.
Nesta escalada do poder a Igreja coloca no sexo o pecado supremo e o poder fica imune à crítica. A Inquisição tem a brilhante idéia de colocar o prazer ligado à fé. A transgressão sexual enredada à transgressão da fé. Normatizam a sexualidade e o prazer. A sensualidade, a intuição, a magia e todas as qualidades relacionadas à plenitude do ser caem na sombra.
Em 1484 foi escrito o Malleus Maleficarum, um código base para o puritanismo. O corpo foi amaldiçoado. A culpa se instalou no íntimo do ser, e passa a controlar a sexualidade até a sua quase abstração.
O conhecimento totalizante que integra inteligência e emoção, corpo e alma, o conhecimento feminino em sua essência ou o que restou dele esconde-se nas brumas. Milhares de mulheres que detinham esse conhecimento foram queimadas vivas. Principalmente as parteiras acusadas de matar os recém-nascidos para entregá-los ao diabo.
Através do julgamento e acusação de heresia a Igreja confiscou bens e aumentou seu patrimônio. Instituiu a lei do celibato, uma forma de preservar a riqueza adquirida em nome de Deus.
O Mal, questão que sempre ocupou a humanidade, principalmente os teólogos, está agora determinado. A Igreja parte à procura do anti-cristo, anuncia o juízo final que seria o fim do mal na terra. A divisão está completa. Define-se o que pertence ao bem e ao exército de Deus e o que pertence ao mal, ao exército do diabo.Os demônios são ordenados hierarquicamente, dependendo do bem intrínseco. Satã, significa adversário. Diabolus,vem de dia,dois e de bolus,partes : pois que o diabo mata em duas partes,corpo e alma. Do grego,diabolus significa confinar na prisão, ou queda, já que ele caiu dos céus. O verdadeiro diabo da fornicação, o soberano daquela abominação é Asmodeus, que significa a criatura do juízo e da punição por que em virtude deste pecado uma terrível catástrofe abateu-se sobre Sodoma. Belzebu é o demônio dos iníquos,das almas dos pecadores que abandonaram a fé verdadeira em Cristo.
Os sete pecados capitais : orgulho, ira, inveja, preguiça, luxúria, gula, avareza, precisam ser purgados para se chegar ao Paraíso. O mundo dos instintos transforma-se no fogo do Inferno. A relação com a Mãe Terra é totalmente desvalorizada. Todos os tesouros estão no Céu. A razão, a luz, o bem estão representados no lado direito do corpo e acima da cintura. O umbigo, Ômphalus- em grego significa centro do mundo; marca a divisão. Abaixo não existe Deus, só o pecado e o mal.
" Para a Igreja, o sofrimento e a aniquilação provisória do corpo são menos temíveis do que o pecado e o inferno. O homem nada pode contra a morte mas, com a ajuda de Deus, lhe é possível evitar as penas eternas."
"A morte é certa, só o tempo é incerto."
Uma pedagogia religiosa é implantada para atingir o cristão e conduzi-lo à penitência.
Através de um inventário dos males, verificaram quem tinha medo e do que tinham medo. Generalizaram estes medos e chegaram a seus agentes : Satã, os turcos, os judeus, os heréticos e a mulher, especialmente as feiticeiras.
Assim o medo teológico substitui o medo visceral e espontâneo próprio da angústia de viver e se descobrir humano.
Para Kierkegaard (1844) "a angústia é símbolo do destino humano, a expressão de sua inquietação metafísica. A contra- partida da liberdade sendo então a característica da condição humana e o peculiar de um ser que se cria incessantemente."
Porém o acúmulo de agressões que atingiu o Ocidente entre 1348 até o início do séc.XVII, incluindo o terror à Peste Negra que aniquilou comunidades inteiras, criou um abalo psíquico profundo e ameaçou desagragar toda uma sociedade. Impotência, fobias, inadaptações, desespero, negatividade, regressão do pensamento e da afetividade e principalmente o temor a Satã, marcaram a história deste Ocidente dividido e sem o contato com o feminino regenerador.
A sabedoria da Psique, equilibrou paralelamente a totalidade, orientando o homem para uma relação estreita com a matéria, origem do Hermetismo e da Alquimia. E um saber interior é gerado nas entranhas da matéria. Nasce o homem interior. O espírito é procurado na matéria, na massa difusa e através de várias operações encontra o ouro alquímico, a pedra filosofal,que é obtida na conjunção dos opostos, feminino e masculino se unem novamente em um casamento místico.
Também na Igreja inicia-se o reencontro com a matéria, com a natureza, através do santo dos santos, São Francisco de Assis, nosso santo ecológico. Na mesma época surge Giotto, trazendo para a pintura os elementos da natureza e a perspectiva.
Inicia-se a desrepressão do feminino no exato momento em que o poder masculino domina a terra violentamente.
Na beleza da simultaneidade , em plena idade média, nasce um mito para nos guiar e trazer a resposta, a solução para o conflito. É uma história de Arthur , recontada por Robert Johnson em seu livro Feminilidade, Perdida e Reconquistada.


A questão central é a pergunta : o que realmente quer uma mulher?


" Arthur quando jovem foi apanhado caçando ilicitamente nas florestas do reino vizinho, sendo aprisionado pelo rei. Ele podia ter sido morto imediatamente, pois este era o castigo por transgredir as leis de propriedade e de posse. Mas o rei vizinho, comovido pela juventude e simpatia do rapaz, ofereceu-lhe a liberdade com a condição de que encontrasse a resposta para uma pergunta muito difícil no prazo de um ano. A pergunta: Que realmente quer a mulher? Isto atordoaria o mais sábio dos homens e parecia insuperável para o jovem. Era melhor, porém, ser enforcado, e assim Arthur voltou para casa e se pôs a perguntar a todos que encontrava no caminho. Prostituta e freira, princesa e rainha, sábio e bobo da corte, todos foram inquiridos, mas ninguém conseguiu dar uma resposta convincente. Cada um deles avisou, no entanto, que havia uma pessoa que saberia a resposta, a velha bruxa. O custo seria muito alto,pois era proverbial no reino que a velha bruxa cobrava preços exorbitantes por seus serviços.
Chegou o último dia do ano e Arthur finalmente viu-se obrigado a consultar a velha. Ela concordou em fornecer a resposta satisfatória, mas o preço deveria ser discutido primeiro. E o seu preço era casar-se com Gawain, o cavaleiro mais nobre da Távola Redonda e o amigo íntimo de Arthur. O jovem fitou a velha bruxa horrorizado : ela era horrorosa, tinha um dente só, cheirava tão mal que enojaria até um bode, emitia sons obscenos e era corcunda. Enfim, a criatura mais detestável que já vira. Arthur tremeu diante da perspectiva de pedir a seu grande amigo que assumisse este terrível fardo por ele. Mas Gawain, ao saber do trato, assegurou a Arthur que isto não era pedir demais para salvar a vida de seu companheiro e ainda preservar a Távola Redonda.
O casamento foi anunciado e a velha bruxa revelou sua sabedoria infernal : "Sabe o que realmente quer a mulher ? Ela quer ser senhora de sua própria vida!

Todos reconheceram na hora a grande sabedoria feminina e o Rei Arthur estava salvo. Ao ouvir a resposta, o soberano vizinho sem hesitar concedeu-lhe a liberdade.
Mas e o casamento? ! A corte toda presente, e ninguém estava mais dividido entre o alívio e a tristeza que Arthur. Gawain portou-se com cortesia, delicadeza e respeito. A velha bruxa exibia o seu pior comportamento, devorava a comida do seu prato com as mãos, emitia horrendos grunhidos e cheiros pavorosos. Até então a corte de Arthur jamais se havia sujeitado a tamanha tensão. A cortesia prevaleceu e o casamento se realizou.
Puxaremos uma cortina de prudência sobre a noite de núpcias, com exceção de um momento espantoso. Quando Gawain, preparado para o leito nupcial, esperava sua noiva, ela apareceu na forma da moça mais linda que um homem pudesse desejar! Gawain estupefato perguntou o que tinha acontecido. A moça respondeu que como Gawain a tinha tratado com gentileza, ela lhe mostraria sua aparência horrenda durante a metade do tempo e sua aparência graciosa na outra metade : qual delas ele escolhia para o dia e qual para a noite? Que pergunta mais cruel a ser colocada para um homem! Gawain fez os cálculos rapidamente. Será que ele queria uma linda jovem para mostrar durante o dia , quase todos os seus amigos a veriam, e uma bruxa horrenda à noite na privacidade do seu quarto, ou queria uma bruxa durante o dia e linda nos momentos íntimos? O nobre Gawain respondeu que preferia que sua noiva escolhesse por si mesma. Com isto, ela anunciou que seria a bela donzela para ele tanto durante o dia como de noite, já que ele demonstrara respeito por ela e concedera-lhe soberania sobre sua própria vida."
Carlos Byington nos alerta que : "a repressão da mulher e o ataque a ela como bruxa, devido à projeção nela dos arquétipos da Grande Mãe e da Anima, necessitam ser compreendidos junto com a histeria, que é uma quadro patológico formado basicamente pela disfunção dos arquétipos Matriarcal e de Alteridade. As características desses arquétipos de intimidade, fertilidade, exuberância do desejo, da imaginação, da clarividência esotérica e da expressividade emocional, quando feridas dão margem ao entrincheiramento desses arquétipos numa luta de poder expressa pela magia destrutiva, pela dramatização e sugestibilidade descontroladas, pela fantasia mentirosa, pela agressividade vingativa desproporcional, pelo congelamento das reações afetivas, pelas reações através de sintomas físicos e pela falsidade voluntária."
Assim o caldeirão da bruxa cozinha poções de vingança por uma vida nãovivida, não integrada.
Na origem, as poções feitas em caldeirões eram benéficas. O caldeirão é símbolo de fertilidade e prosperidade. Tanto ele, quanto o vaso alquímico são variantes do mesmo talismã mágico, o Santo Graal. Concedem a eterna juventude. A cocção dentro de um caldeirão é a operação mágica destinada a conceder a imortalidade àquele que sofre a provação. A força mágica reside na água. Para os celtas existiam três tipos de caldeirão : o do deus druida Dagda, um caldeirão de abundância e saciedade. O caldeirão da ressurreição onde jogavam os mortos para renascerem no dia seguinte. E o sacrificial onde os reis depostos se afogavam.
O simbolismo do Graal é análogo ao da cornucópia, além do poder de iluminar ( iluminação espiritual) e fazer invencível, simboliza a plenitude interior que os homens sempre buscaram. A exigência de interioridade que poderá abrir a porta da Jerusalém Celeste na qual resplandece o divino cálice.
"a perfeição humana se conquista não a golpes de lança como um tesouro material, mas por uma transformação radical do espírito e do coração. " E a imagem viva do Graal é Jesus Cristo., em sua mensagem de Amor.
Usado no culto à Grande Senhora da Lua, O Graal continha a água do poço sagrado e num coro ritualístico as sacerdotizas faziam refletir a luz da lua na limpidez da água e celebravam a natureza, a vida e os ciclos eternos, o ir e o vir.
É necessário um retorno ao Eros, à Quarta função ausente na cultura ocidental, a função sentimento com sua característica principal de valorar e dar sentido à vida para que a mensagem de Cristo seja vivida entre os homens.
O mal precisa ser elevado à consciência, pessoal e coletiva, para tornar-se fonte de criatividade.
A feiticeira, que é a antítese da mulher idealizada, símbolo das energias criadoras instintuais, não domesticadas e não disciplinadas precisa ser ouvida. A integração desta sombra tráz de volta a mulher selvagem, que segue seu instinto de preservação, que possui sua energia vital, sexual, que fareja o perigo, que intui a cura e sabe o que a alma está pedindo, que sabe aplacar o sofrimento e pode transmitir o dom da vida.
Esta integridade faz a ponte para a transcendência. É a mulher novamente apresentando-se como agente de mudança para uma nova etapa no desenvolvimento da consciência humana.
BIBLIOGRAFIA
BACHELARD, Gaston – A Terra e os Devaneios da Vontade – SP/1991, Ed. Martins Fontes.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Divina Deusa Mistral


Mulher doadora de vida, de leite, de carne, de amor divinal...cuida e protege e ao mesmo tempo liberta. As vezes foge outra se apega. Sem agua mole ou pedra dura, sem fogo brando ou fogarel... Abraça as horas com força e desamassa...agarra a vida na marra e desentorta.Do mesmo talhe somos feitos, do mesmo corte, a mesma seiva, a mesma argila, temos o mesmo sopro de vida...mas o amor é divinal, e quando o peito transborda ela volta e revolta e doa a vida novamente...livre,amando,sendo e deixando ser - e a Deusa neste momento se mostra Triplice...